Palavras da Instituição da Ceia do Senhor

            Em um primeiro momento, quando olhamos para este quadro em sentido vertical, podemos observar que as palavras que Mateus e Marcos colocam ao final da Instituição, inversamente, Lucas coloca-as ao inicio. Os primeiros dizem que Cristo não mais beberá do fruto da videira, senão, novamente no Reino de Deus. Enquanto que Lucas, além de acrescentar algo novo, que é o “comer”: “Pois vos digo que nunca mais a comerei[a Páscoa], até que ela se cumpra no reino de Deus”, ele também fala sobre o beber, dizendo: “pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, arte que venha o reino de Deus”. E, então ele fala da Instituição, como a conhecemos.
            Uma outra coisa que chama a atenção no relato de Lucas é a menção das duas distribuições do “cálice”. No v.17 diz: “E, tomando um cálice havendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós” e no v. 20 “Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo”. Com isso, pergunto: houve duas consagrações do cálice, mesmo que na segunda vez, Lucas não diz nada sobre “abençoar” ou “dar graças”? Ou os discípulos junto a Jesus já estavam comendo e bebendo e em certo momento houve a pronuncia de que aquele pão era seu corpo e aquele cálice seu sangue?
            Agora, quando olhamos em sentido horizontal, o que nos chama a atenção é a menção dos elementos e o que isto significa. Nos quatro relatos há a menção de que Jesus “tomou um ou o pão” dizendo “isto é o meu corpo”. Assim também ocorre com o cálice, pois os quatro dizem: “tomou um ou o cálice”. Mas agora, o que isto significa, varia um pouco. Mateus e Marcos dizem: “Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança”. Enquanto que Lucas e Paulo nos dizem: “Este [é o] cálice é a [da] nova aliança no meu sangue”. E, mesmo que algumas versões gregas não trazem o termo “nova”, temos grandes representantes que nos dão a possibilidade de afirmar que uma segunda coisa que aparece nos quatro relatos é a confirmação que o sangue de Cristo é a “nova aliança”.
            Outra semelhança que há na estrutura do texto é a semelhança que há entre os relatos de Mateus e Marcos, e o de Lucas e Paulo. Alguns exemplos:
Mateus e Marcos dizem: “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu”. Até aqui as palavras são iguais. Mateus segue sendo um pouco mais explicito que Marcos dizendo que “e o deu [o pão] aos discípulos” enquanto que Marcos apenas diz: “e lhes deu”. E juntamente seguem “dizendo: Tomai, [aqui Mateus acrescenta comei] isto é o meu corpo. A seguir, tomou [agora é vez de Marcos acrescentar Jesus] um cálice e, tendo dado graças, o deu”. E, enquanto Mateus diz simplesmente “aos discípulos” Marcos especifica “aos seus discípulos”. Além desta clara semelhança na descrição observada até aqui, ainda segue a descrição do propósito do cálice, isto é, em uníssono dizem: “derramado em favor de muitos”. Mas, Mateus não se contenta com isto e acrescenta: “para remissão de pecados”.
Creio que esta semelhança nestes dois evangelistas se deve a fonte de onde buscaram auxilio para escrever seus evangelhos ou talvez, quem foi o primeiro a escreveu. Como muitos alegam, Marcos foi o primeiro a escrever seu texto, com isso, não nos cabe dúvida que Mateus se utilizou deste para relatar o seu evangelho.
Agora a semelhança entre Paulo e o evangelista pode nos surpreender? Talvez não. Vejamos as semelhanças entre estes:
Enquanto Mateus e Marcos dizem que Jesus, tomando um pão e “abençoando-o, o partiu”, Lucas e Paulo nos dizem: “tendo dado graças, o partiu”. O que este pão significa, já o tenho comentado acima, mas agora o evangelista Lucas e o apóstolo Paulo nos dizem que este pão nos “[Lucas]: oferecido [Paulo:] é dado [juntos] por vós” Então segue um apelo em uma só voz: “fazei isto em memória de mim”. São ambos que nos dão a idéia que Jesus mencionou que aquele cálice que estavam bebendo era o cálice da nova aliança, ocorreu após do “cear” (Lucas) ou de “haver ceado” (Paulo). Enquanto Lucas, nas palavras que seguem, é mais partidário com os amigos evangelistas, dizendo que este cálice é “derramado em favor de vós”. Paulo apenas acha que aquilo que Cristo pediu que os discípulos fizessem com o pão, agora também fizesse com o vinho, pois ele diz: “fazei isto, todas as vezes que o beberdes em memória de mim”. E é dele que temos o porquê da celebração da Ceia entre nós, pois diz: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”.
Qual seria a razão da semelhança entre estes dois últimos? Segunda a tradição antiga, Lucas foi companheiro de Paulo em muitas das suas viagens e, sendo autor do Evangelho que leva seu nome, um pode ter se valido do outro para escrever seus textos. Paulo, nem sempre escrevia de “próprio punho” a carta toda. Por exemplo, no final de 1Co 16.21, ele diz “A saudação, escrevo-a eu, Paulo, de próprio punho”. Parece indicar que Paulo, depois de ditar toda a carta, de seu próprio punho e letra, escreve sua firma e umas palavras finais. E, como sabemos, Lucas era médico, alguém com estudo, capacitado para escrever. A alguma razão para que ele não tenha sido o amanuense de Paulo na escrita da Carta aos Coríntios?
Para os críticos que necessitam de várias fontes para a comprovação, por exemplo, de uma doutrina, creio que os três relatos dos evangelhos mais o de 1Co escrito por Paulo nos permite ter a certeza que o próprio Senhor Jesus Cristo instituiu a sua Ceia, consagrando “Pão e cálice”, dizendo que aquele pão é o seu “corpo” e que aquele cálice é o seu “sangue” que é a “nova aliança”. Aliança esta que nos une novamente com Deus e, segundo Mateus, nos dá “remissão dos pecados”.