1.3.1 Jesus Cristo
“A doutrina da Inspiração do Novo Testamento realmente começa com o Senhor Jesus”, segundo Becker [1]. E, mesmo que Cristo, nada tenha escrito, deu autoridade à Escritura (i.e., AT) como também deixou claro que suas palavras eram palavras de Deus (Jo 12.47,48). Conforme Pieper, isto quer dizer que “Cristo e os Apóstolos ensinaram a inspiração verbal tanto do Antigo quanto do Novo Testamento” [2].
Grande discussão gira em torna das palavras de Jesus Cristo registradas por João. Ali diz Cristo: Não está escrito na vossa lei [Sl 82.6]: Eu disse: sois deuses? Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar (Jo 10.34,35).
Ao mencionar Jesus a frase “Sois deuses”, ele reforça sua compreensão de que a Escritura não pode falhar, i.e., não pode errar. Comentando esta concepção de Jesus, Pieper afirma,
Se uma pessoa tem a atitude Cristã para Sagrada Escritura e deixa a Sagrada Escritura ser a Palavra de Deus, é visto imediatamente a atitude que ele tem sobre a possibilidade de erro na Sagrada Escritura. Cristo definitivamente tira fora a possibilidade de erros na Sagrada Escritura quando Ele diz: “A Escritura não pode (ouv du,natai) falhar” [3].
Portanto, com este enunciado de Jesus Cristo, que a Escritura, i.e. todo o Antigo Testamento, não pode falhar, ele atesta e confirma a fidedignidade do Antigo Testamento como sendo a palavra de Deus. Isto é, ela possui autoridade divina, como expressa o teólogo luterano Pieper e, por este motivo, com a mesma fé e obediência que é dada a Deus, também deve ser dada a sua Palavra. Esta foi a atitude de Cristo e seus Apóstolos para com a Escritura do Antigo Testamento (Lc 24.25-27; 44-47; Jo 10.35; 2Tm 3.16,17; Mt 4.4-7) [4]. É nesse sentido que Henry então expressa que “a implicação inevitável é que a totalidade da Escritura é de autoridade incontestável” [5].
Jesus ensinou a doutrina da Inspiração Bíblica? Ensinou-a clara e visivelmente. Pois, com esta frase A Escritura não pode falhar, segundo Hodge, se tem “toda a doutrina da inspiração plena, ensinada pelos lábios do próprio Cristo” [6].
Além desta passagem, também se pode mencionar a de Mateus 5.17,18, onde ele afirma à multidão no Sermão do Monte: Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. O que Jesus pretende ao dizer isso?
Já foi visto que Jesus dá toda confiança e credibilidade ao Antigo Testamento. E ao pronunciar estas palavras ele volta a reiterar essa confiança que o AT merece. Ao dizer Não penseis… Porque em verdade vos digo, segundo Beegle, Jesus está refutando algumas interpretações judaicas da lei (i.e., AT) [7], pois, qual era o valor que estas palavras tinham para aqueles interpretes? Quando Jesus menciona que até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra, Ele sabia da tradição dos interpretes de afirmarem que estes elementos, i.e., céu e terra, jamais passariam, pois estes são eternos. Mas, o que Cristo aqui quer afirmar é que, se estes vindo a desaparecer, mesmo assim, nem uma mínima parte desta palavra será tirada [8]. Conforme Henry, “Jesus disse que o céu e a terra passarão antes de o mínimo pormenor da lei deixar de ser cumprido. A autoridade da lei depende do fato de que será cumprido cada detalhe” [9].
Qual o valor das Escrituras para o Senhor Jesus Cristo? Após sua ressurreição, estando ainda neste mundo por mais quarenta dias (At 1.3), Jesus tratou de abrir “o espírito de seus discípulos, a fim de que compreendessem o sentido de sua vinda” [10].
Inicia esta tarefa com dois de seus discípulos. Estando estes a caminho de Emaús, Jesus se pôs a caminhar com eles, sem que estes o reconheçam. Ali, em meio aos rumores da semana que passou, os discípulos lhe pergunta: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? (Lc 24.18). Então ele lhes expõe as Escrituras. Essa mesma tarefa se estende aos onze que estavam reunidos em Jerusalém. Ao aparecer em meio deles, também lhes expõe as Escrituras dizendo: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos (Lc 24.44). Deste modo, Jesus “lhes ‘abriu o espírito’, a fim de que compreendessem as Escrituras”, segundo Dietrich [11]. Ela então segue:
Essas duas passagens [Lc 24.25-27 e 44-49] são de importância capital. Salientam a unidade indissolúvel da revelação bíblica: sobre o duplo fundamento dos Apóstolos e dos Profetas se apoiará o testemunho da Igreja (Ef 2.20). Essas duas passagens criam a interpretação cristológica do Antigo Testamento: Moisés, os Profetas, os Salmos, isto é todas as Escrituras, falam de Jesus e anunciam sua vinda. Há nas Escrituras um sentido oculto que só é acessível à fé e que só o Espírito Santo pode revelar. Fora dessa revelação, o Antigo Testamento permanece um livro fechado (cf. também Jo 5.45-47; 8.56-58; 2 Co 3.12-16) [12].
Com estas análises da interpretação de Cristo às Escrituras, pode-se concluir assim como o fizeram Reinhold Seeberg, ao afirmar: “O próprio Jesus descreve e emprega o Antigo Testamento como autoridade infalível (e.g., Mt 5.17; Lc 24.44)” [13] e Geisler e Feinberg,
Jesus ensinava que a Bíblia é a Palavra de Deus. Jesus afirmava que o Antigo Testamento era a verdade inquebrável de Deus (Jo 10.34,35), até mesmo nos tempos dos verbos (Mt 22.32) e nas mínimas partes das letras (Mt 5.17,18). Proclamou tanto a inspiração dela (Mt 22.43) quanto a sua autoridade final, sobre Satanás (Mt 4.4,7,10) e sobre todo o ensino humano (Mt 15.1,2). Jesus declarou a unidade do Antigo Testamento (Lc 24.27, 44) bem como sua inerrância (Jo 17.17; Mt 22.29). Afirmou a veracidade da história da criação (Mt 19.35), do dilúvio de alcance mundial nos dias de Noé (Mt 24.38,39), e que Jonas passou três dias num grande peixe (Mt 12.40-42). Em resumo: Jesus afirmou a autoridade, autenticidade, e historicidade divinas do Antigo Testamento. Chamava-o “a Palavra de Deus” (Jo 10.34).
Além disto, Jesus colocou Suas próprias palavras em pé de igualdade com o Antigo Testamento (Mt 5.18, cf. Mt 24.35), e disse que os apóstolos seriam guiados em lembrar (Jo 14.26; 16.13) e em ensinar tudo quanto Ele ensinara (Mt 28.18-20; cf. At 1.1; 2.42; Ef 2.20). Logo, os Evangelhos e Epístolas do Novo Testamento estão no mesmo nível que o Antigo Testamento, conforme reconheceram Paulo (1 Tm 5.18) e Pedro (2 Pe 3.15,16) [14].
1.3.2 Apóstolos
Além do testemunho dos profetas e do Senhor Jesus Cristo, também a doutrina da inspiração Bíblica é grata aos Apóstolos que, guiados pelo Espírito Santo, puderem deixar em palavras claras esta intervenção divina para relatar em palavras humanas sua vontade. Para os apóstolos, não só o AT é palavra de Deus, senão que seus próprios escritos também são divinamente inspirados. Por isso, McDonald pode expressar:
Com a mesma convicção da autoridade divina [dada pelos profetas e por Jesus Cristo], os escritores do NT aceitaram-na e a citaram; à luz dela, eles mesmos, como os intérpretes inspirados da significância salvífica da Pessoa e da obra de Cristo, colocaram seus próprios escritos em pé de igualdade com as Escrituras do AT como divinamente autorizados. Nas palavras dos Seus apóstolos eleitos, a plena medida da revelação de Deus em Cristo foi completada, de modo que Paulo podia declarar: “Falamos em Cristo perante Deus” (2 Co 12.19). Desta forma os apóstolos reivindicam uma autoridade absoluta para os seus escritos (e.g.: 2 Co 10.11; 1 Ts 2.13; 5.27; 2 Ts 2.15; 3.14) [15].
1.3.2.1 Apóstolo Paulo
Moisés e Jeremias, muitas coisas têm em comum, no entanto, como fica a relação Paulo e os profetas? Becker, ao falar deste apóstolo, o intitula “o Apóstolo de Cristo – ‘tanto no falar quanto no escrever’”, pois é assim que ele mesmo se considera e o próprio texto bíblico revela isto (Gl 1.11,12; 1 Co 1,17; 2.10; 11.23; 2 Ts 2.15).
Ao escrever para a comunidade de Éfeso, expressa: Pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito (Ef 3.3-5). Pode-se perceber que aqui Paulo designa a ele e aos outros Apóstolos o título de “profeta”. Pois segundo a regra gramatical grega, anotada por Becker, diz que “quando um artigo preceder dois substantivos, ambos os substantivos serão entendidos como designações da mesma pessoa ou coisa” [16]. E este é o caso aqui, pois Paulo registra toi/j a`gi,oij avposto,loij auvtou/ kai. profh,taij [17].
Do mesmo modo como Deus chamou e enviou a Moisés, Jeremias e todos os outros profetas, assim também Paulo reivindica esse chamado e envio. Tomando as palavras do Senhor a Jeremias que diz: Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo (Jr 23.21), como paradigma para a definição de um profeta, se pode concluir que é um individuo enviado por Deus, e esta é a conotação do termo grego avpo,stoloj. Assim mesmo o Senhor define os seus apóstolos dizendo: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (At 9.15).
Quando Paulo começa a maioria das suas Epístolas por se denominar a si mesmo um Apóstolo de Jesus Cristo, realmente está atraindo à sua autoridade como alguém que tinha sido enviado pelo próprio Deus para escrever a eles. Ele poderia fazer esta reivindicação honestamente, por que o Senhor Jesus se apareceu novamente a ele em uma visão três anos depois da sua conversão, dizendo-lhe, “Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios” (At 22.21) [18].
Também o cumprimento das profecias pode ser uma prova a favor da ação do Espírito Santo, tanto na vida quanto no escrito deste Apóstolo. Conforme Becker “o cumprimento de profecia é então um teste Bíblico da inspiração de um homem” [19], e nisso Paulo e os profetas muito se assemelham. Pois, Jeremias combatendo com o falso profeta Hananias, profetizou dizendo: morrerás este ano, porque pregaste rebeldia contra o SENHOR (Jr 28.16), e assim aconteceu: Morreu, pois, o profeta Hananias, no mesmo ano, no sétimo mês (Jr 28.17). Deste mesmo modo, o apóstolo Paulo ao anunciar a mensagem do Senhor Jesus Cristo ao procônsul Sérgio Paulo, se lhe opôs o falso profeta Barjesus, também chamado de Elimas, o mágico. Mas Paulo, então lhe disse: Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão (At 13.11). E deste modo, vendo que estas eram palavras que provinham de Deus, o procônsul… creu, maravilhado com a doutrina do Senhor (At 13.12).
E uma segunda prova da ação do Espírito Santo neste homem, segundo Becker, é a realização de Milagres [20]. Pois assim como Moisés, perante o Faraó e o povo de Israel, realizou inúmeros milagres, relatados acima, também Paulo realizou muitos milagres: A cura do coxo em Listra (At 14.8-10); a cura de uma jovem possessa por um demônio adivinho (At 16.16-18); o jovem que teve sua vida recobrada em Trôade (At 20.9,10), e muitos outros milagres que estão resumidos na palavras de Lucas: demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem sinaise prodígios (At 14.3).
Mas dentre as passagens que ensinam claramente a Doutrina da Inspiração Bíblica se encontra as Palavras de Paulo a Timóteo: Toda a Escritura é inspirada por Deus (2 Tm 3.16). E, mesmo que alguns tenham proposto uma tradução diferente, por exemplo: “Toda Escritura, inspirada por Deus, é útil…” como menciona Becker[21], isto não levaria a duvidar que as Escrituras sejam divinamente inspiradas.
Como Paulo entendia que a Escritura (i.e., AT) era inspirada? Isto fica claro na sua Epístola aos Romanos onde ele diz: Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança (Rm 15.4). “As coisas que foram escritas são as Escrituras, ou os Escritos”, conforme Becker [22]. Paulo compreendia que as Escrituras que outrora foram escritas, ainda em seus dias tinham o mesmo valor do que quando foram registradas.
Mas, voltando à interpretação desta pequena partícula: Toda a Escritura é inspirada por Deus, Pieper menciona as palavras do conhecido teólogo luterano Quenstedt, que diz:
O Apóstolo não diz: ‘Tudo na Sagrada Escritura, pa,nta evn grafh, qeo,pneusata’, mas ‘Toda a Sagrada Escritura, pa/sa grafh. qeo,pneustoj‘ para mostrar que não somente estas coisas escritas sobre ela, mas também a própria escritura é qeo,pneustoj. E qualquer coisa que é dita de toda a Sagrada Escritura também deve necessariamente ser entendida [ou dita de] cada palavra, não como a parte mais insignificante da Escritura. Se uma pequena palavra ocorresse na Sagrada Escritura que não fosse sugerida ou divinamente inspirada, não poderia ser dito que ‘Toda a Sagrada Escritura é dada por inspiração de Deus’ [23].
Mas a partir desta passagem, pode-se afirmar que Paulo dá valor a toda a Escritura que se conhece hoje em dia como inspirada? Será que ele incluía as suas Epístolas como Inspiradas? E o que falar dos Evangelhos que surgiram só mais tarde? Quem pode dar um parecer sobre isto é Grudem, quando afirma:
Para responder a essas perguntas, devemos perceber que a palavra gregagraphê(“escritura”) era o termo técnico para os escritores do NT e possuía um sentido altamente especializado. Embora ela seja usada 55 vezes no NT, em cada uma delas ela se refere aos escritos do AT, não a quaisquer outras palavras ou escritos fora do cânon da Escritura. Assim, cada coisa que pertencia à categoria “escritura” tinha o caráter de ser “soprada por Deus”: suas palavras eram as verdadeiras palavras de Deus [24].
Porém, em dois outros lugares do Novo Testamento, é mencionado o termo “Escritura”, que tanto menciona o AT quanto pareceres dos escritores que hoje são atribuídos ao NT. A primeira delas é 2 Pe 3.15,16 onde diz: Igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Aqui se nota que Pedro coloca no mesmo plano as Cartas de Paulo e as Escrituras, i.e., AT. E, o próprio Paulo corroborou nesta difícil tarefa de posicionar estes novos escritos como palavra de Deus, ao escrever para Timóteo dizendo: Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário(1Tm 5.18). Para os nossos dias, uma passagem de cada Testamento. Isso mesmo. A primeira frase, Paulo menciona Dt 25.4, enquanto que a segunda, sendo palavras de Jesus, são palavras que se encontra no evangelho de Lucas (Lc 10.7). E são a estas palavras que Paulo chama de “Escritura”. Conforme Grudem,
Essas duas passagens tomadas juntas indicam que durante o tempo do registro dos documentos do nt havia a consciência de que adições foram sendo feitas a essa categoria especial de escritos chamada “escritura”, escritos que tinham o mesmo caráter das verdadeiras palavras de Deus. Assim, uma vez estabelecido que os escritos do nt pertencem à categoria especial de “escritura”, estamos certos em aplicar 2 Timóteo 3.16 igualmente àqueles escritos e em dizer que aqueles escritos também possuem a característica que Paulo atribuí a “toda a Escritura”: ela é “soprada por Deus”, e todas as suas palavras são as verdadeiras palavras de Deus [25].
No entanto, todavia será necessário o estudo da segunda passagem bíblica que ensina claramente a Doutrina da Inspiração Bíblica, i.e., 2 Pe 1.21, e assim retornar a discussão sobre o que estas duas passagens ensinam sobre a revelação divina de suas palavras a homens.
1.3.2.2 Apóstolo Pedro
Também o apóstolo Pedro dá sua colaboração à Doutrina da Inspiração, ao relatar em sua segunda Epístola dizendo: Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos [26]falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo (2 Pe 1.21). Para Becker, traduzindo desta forma ou literalmente, qualquer uma expressa que,
estas palavras que os homens que falaram as profecias não fizeram por sua própria livre escolha decidindo o que eles diriam. Mas, o que eles disseram estava de acordo com a vontade do Espírito Santo. Eles disseram o que Ele queria que eles dissessem[27].
Para o teólogo luterano Pieper, a passagem de 2 Pe 1.21, permite levantar a afirmação de que a “Inspiração Verbal não é uma ‘ensino sutil’ dos velhos dogmáticos”, senão que ela mesma atesta que toda a Escritura é plenamente inspirada, então ele segue dizendo:
De acordo com esta passagem, os homens santos de Deus, enquanto sendo movidos pelo Espírito Santo, somente não pensaram ou meditaram, mas eles “falaram”, quer dizer, proferiram palavras. E o verso precedendo (v. 20) expressamente diz que a referência é às palavras escritas da Sagrada Escritura; as palavras proferidas pelos homens santos estão definidas como a “profecia da Sagrada Escritura” [28].
Portanto, a dúvida lançada por muitos e que Becker expõe claramente, de que esta passagem apenas se refere às palavras faladas dos apóstolos [29], Pieper já é contundente e afirma que estes movidos pelo Espírito Santo, também “refere-se às palavras escritas da Sagrada Escritura” [30]. E seguindo esta mesma compreensão, Becker acrescenta:
Em primeiro lugar, qualquer um que lê a sua Bíblia com algum grau de atenção e entendimento sabe que as frases está escrito e foi falado são sinônimos na Bíblia. Da mesma maneira, quando citamos do livro de um autor dizendo que ele diz certa coisa em certa página de seu livro. Enquanto pode haver uma distinção entre está escrito e foi falado, normalmente eles são usado intercambiavelmente.
[…]
Além isto, só precisamos chamar a atenção ao contexto imediato desta passagem e notar que Pedro diz que ele e esses para quem ele está escrevendo tenha esta palavra de profecia que foi falada pelos homens santos de Deus debaixo da influência do Espírito Santo. Eles não tiveram isto certamente em forma oral, já que todos os Profetas do Antigo Testamento estavam mortos.
Finalmente, as profecias escritas são especificamente mencionadas no contexto, no verso que precede o que aqui citamos diz, “nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação”. Quão pouca diferença os escritores inspirados fizeram entre o que eles disseram e o que eles escreveram […] é demonstrado graficamente pelas palavras de Davi, “a minha língua é como a pena de habilidoso escritor” (Sl 45.1) [31].
[1] BECKER, op. cit. p. 75.
[2] PIEPER, Francis. Christian Dogmatics. Vol. I. 1950. p. 265.
[3] Idem, p. 280.
[4]PIEPER, op. cit. p. 307.
[5] HENRY, op. cit. p. 186.
[6] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. 2001, p. 127.
[7]BEEGLE, op. cit. p. 215.
[8]Beegle comenta: “O uso de Jesus do termo “iota” (traduzido por “jot” na King James Version) é uma referência à letra grega iota, que traduz a letra hebraica yod, a menor letra do alfabeto… O “til” ou “ponto” é uma referência às pequenas características que distinguem certas letras do alfabeto hebraico de outras letras que são bem semelhantes em aparência. Portanto , Jesus está tornando isto claro, que o menor artigo da lei é importante”. BEEGLE, op. cit. p. 215.
[9] HENRY, op. cit. p. 181.
[10] DIETRICH, op. cit. p. 174.
[11] DIETRICH, op. cit. p. 174.
[12] Idem, p.175.
[13] Seeberg, Reinhold apud HENRY, op. cit. p. 187.
[14]GEISLER, Norman L. e FEINBERG, Paul D. Introdução à Filosofia: Uma perspectiva cristã. 1996, p. 303-4
[15] McDONALD, H. D. Autoridade da Bíblia. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol. I, 1990. p. 174.
[16]BECKER, op. cit. p. 57.
[17] Aos seus santos apóstolos e profetas.
[18] BECKER, op. cit. p. 58.
[19] Idem, p. 59.
[20]Idem, p. 60.
[21] Idem, p. 73.
[22] BECKER, op. cit. p. 73.
[23]QUENSTEDT apud PIEPER, op. cit. p. 218.
[24]GRUDEM, Wayne. Manuel de Teologia Sistemática: Uma introdução aos princípios fundamentais da fé cristã. 2001, 35.
[25]GRUDEM, op. cit. p. 35.
[26]Conforme nota de rodapé da Bíblia Almeida Revista e Atualizada: Em diversos manuscritos não aparece: santos. E, ao observar o grau de certeza de um texto apresentado pelo The Greek New Testament, Fourth Revised Edition, é certo a omissão dessa palavra. No entanto, interpreto isso de forma a favorecer a doutrina da Inspiração, pois deste modo, Deus não se usou de pessoas em extrema santidade. Mas Deus se valeu de homens simples: um lavrador (1Rs 19.19); um pastor de ovelhas (Amós 1.1); um cobrador de Impostos (Mt 9.9); um simples pescador e negador de seu Senhor (Mt 26.69-75) e um grande perseguidor da Igreja (At 22.4; 26.1-23; 1Co 15.9).
[27]BECKER, op. cit. p. 72.
[28] PIEPER, op. cit. p. 217s.
[29]BECKER, op. cit. p. 72.
[30]PIEPER, op. cit. p. 218.
[31]BECKER, op. cit. p. 72.