Perícopes Trienal B
Sl 62. 5-12
Jn 3.1-5, 10
1Co 7. 29-31
Mc 1. 14-20
A. Contexto Litúrgico
Ao seu povo Deus diz: “O tempo está cumprido… arrependei-vos”. O Salmista nos alenta a “derramar os nossos corações perante Ele” (v.8). Este mesmo apelo, o profeta temeroso, Jonas, após seu arrependimento, anuncia ao povo ninivita o castigo iminente de Deus. E Deus, “vendo o que fizeram, como se arrependeram, se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria” (v.10).
Este tempo (chronós) está passando e vemos o desenrolar da história do povo de Deus que constantemente caiu e cai em pecados, mas Ele nos permite arrepender-nos. No entanto, o seu tempo (kairós) “está cumprido”, pois ele veio na pessoa de Jesus Cristo, que chamou o povo de Israel ao arrependimento e estes, não o aceitaram. Hoje, Cristo, através de sua Palavra anunciada e ministrada nos Sacramentos, nos chama e oferece o “arrependimento de todos os nossos pecados”. “O Reino de Deus está próximo”, próximo para o povo de Israel que não o aceitou. Mas para nós, não consumado, mas presente e revelado, principalmente na grande obra de Cristo: seu sofrimento, morte e ressurreição em nosso lugar.
Interessante ainda notar que o anuncio da vontade de Deus, isto é, que seu povo se arrependa, já se deu de várias formas. Vemos o precursor de Jesus Cristo: João Batista pregando “o batismo de arrependimento” (Mc 1.4). Temos então a presença do próprio Senhor Jesus Cristo que chama a todos ao arrependimento (Mc 1.15). Nesta mesma perícope de Marcos temos o chamado dos primeiros discípulos, os quais depois da Ascensão de Cristo, foram incumbidos de anunciar este arrependimento (At 2.38). Hoje cabe a igreja de Cristo viver em constante arrependimento e anunciar a Boa Nova do perdão que nos é oferecido em Jesus Cristo.
2. As perícopes e sua função no lectionário anual
Os textos apontam para qualidades e atitudes importantes na vida daqueles que são chamados e na obra da evangelização: desprendimento e rapidez (Mc 1.14-20), primazia do chamado diante da temporalidade do mundo (1Co 7. 29-30, Sl 62. 5-12), amor sem preconceito e confiança em Deus (Jn 3.1-5).
3. Os textos
3.1 Idéia central
Diante da revelação de Cristo: “o reino de Deus está próximo” (Mc 1.5) e que este “tempo se abrevia” (1Co 7.29), vemos que se faz necessário ouvirmos o apelo de Davi: “derramai perante ele o vosso coração” (Sl 62.8), pois é Nele que devemos confiar e não em outras coisas, isto é, especialmente nas riquezas adquiridas desonestamente (v.10). “Arrependei-vos e crede no evangelho”, não é uma imposição, mas uma oferta graciosa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
3.2 Idéias comuns
– Deus, através do profeta Jonas, pede ao povo de Ninive que cada um se converta do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. Assim também, Cristo diz: “Arrependei-vos” e bondosamente nos explica que este arrepender-se não é, senão, crer no evangelho (= Nele).
– Como “o tempo se abrevia”, Cristo chamou e chama seus discípulos para prontamente deixarem tudo para trás e segui-lo, confiantes que a nossa retribuição (Sl 62.12), já está garantida em Deus que é o nosso refúgio.
3.3 Objetivo geral (um ou mais )
Cristo escolheu pessoas (=discípulos) para anunciar o seu maravilhoso evangelho, permitindo que aos que o ouvem, possam crer que são de fato perdoados e que podem viver de uma nova maneira. Para Paulo e Barnabé, disse o Senhor: “Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra” (At 13.47). Sejamos nós também pessoas constituídas para levar esta boa nova da salvação.
3.4 Ênfase teológica (uma ou mais )
Deus estende a todos a oportunidade de se arrependerem, por isso, um dos grandes temas deste 3º Domingo de Epifania é a busca do “Arrependimento”. No entanto, Cristo também diz: “crede no evangelho”, afirmação que está diretamente ligada ao arrependimento, pois arrependimento não é outra coisa a não ser crer no evangelho, em Cristo.
B. Textos para proclamação do evangelho: Mc 1. 14-20.
1. Contexto bíblico do texto
Importante destacar que o evangelista Marcos dedica grande parte de seu livro para descrever os atos que aos discursos de Jesus. Por isso, dentro do que chamaríamos de “Prólogo” temos a pregação de João Batista (1.1-8); o batismo de Jesus (1.9-11); seguido de um breve relato da “Tentação de Jesus” no deserto e terminando com o relato da volta de Cristo para a Galiléia, onde inicia seu ministério chamando ao arrependimento (1.14,15) e também o chamado dos primeiros discípulos (1.16-20).
1.2 O autor e autores – O que Deus pretende? O que pretende o homem de Deus ?
- Autoria:
A opinião mais generalizada identifica o autor deste evangelho com João Marcos (ou só João), primo de Barnabé (Cl 4.10) e filho de Maria, a qual morava em Jerusalém, em uma casa que tinha um “cenáculo onde se reuniam” os apóstolos (At 1.13; 12.12). Foi colaborador do Apóstolo Paulo (At 12.25; 13.5,13; 15.37,39; 2Tm 4.11; Fm 24) e, talvez, discípulo de Pedro, que na sua primeira carta o menciona como “meu filho Marcos” (1Pe 5.13). Marcos também tem sido identificado com o “jovem” que “fugiu desnudo” do Getsêmani quando Jesus foi preso (Mc 14. 51,52): acha-se que essa referência enigmática, exclusiva deste evangelho, é uma reminiscência autobiográfica.
Marcos não é um historiador no sentido que hoje damos ao termo. Antes, é um narrador que conta o que chegou ao seu conhecimento. Recorre, provavelmente, à memória de coisas ouvidas, mas é capaz de criar no leitor a impressão de encontrar-se ante uma testemunha ocular dos fatos relatados. Com respeito a datação de Marcos, mesmo havendo várias considerações, podemos data-lo entre 63-70, isto é, nos anos que segue a perseguição de Nero (64) e a destruição de Jerusalém (70).
- Destinatários:
As fontes extrabíblicas indicam um público cristão gentílico, provavelmente em Roma. Isto parece claro, pela tradução que Marcos faz de expressões aramaicas, pela explicação que dá de costumes judaicos (tal como o lavar as mãos antes de comer 7. 3,4) e, nos poucos textos que ele inclui sobre o assunto, pelo seu interesse na cessação dos elementos rituais da lei mosiaca (7. 1-23 e 12. 32-34).
- Propósitos/Razões:
Marcos não parece preocupado com questões biográficas como o fazem Mateus e Lucas. Mas, o que realmente importa ao evangelista é testificar que a pergunta sobre quem é Jesus a primeira comunidade cristã respondeu com convicção: Jesus é o Filho de Deus. E, fazendo eco desta afirmação de fé, Marcos inicia a sua mensagem enunciando solenemente: “Principio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1.1).
1.3 O momento histórico na história
Como se pode observar no desenrolar da narrativa de Marcos, após o aparecimento do profeta João Batista, já predito seu surgimento pelos profetas Malaquias (3.1) e Isaias (40.3). Este mesmo João Batista além de “preparar o caminho” também realizou o batismo de Jesus Cristo. O próprio texto bíblico nos diz que, a seguir, Jesus foi levado para o deserto (v.12) onde permaneceu quarenta dias sendo tentado por Satanás. Marcos não diz quanto tempo depois é que Jesus volta em cena, mas sabemos que foi logo depois de “João ter sido preso” por ordem de Herodes Agripa (v.14). Ali na Galiléia, inicia com uma pregação.
Segundo se afirma, nos vv. 14 e 15, temos um resumo da pregação de Jesus: 1. Anúncio da chegada do Reino de Deus. 2. No chamado ao Arrependimento. 3. Aceitar com fé a Boa Noticia da Salvação (Evangelho). Com isto, temos a finalização do prólogo. Junto ao mar da Galiléia, chama seus primeiros discípulos a quem dá testemunho de quem Ele é e que ao final desta seção será reconhecido como “Tu és o Cristo” (8.29).
1.4 Os personagens
Jesus Cristo.
Simão e André.
Tiago e João.
Pai Zebedeu.
Empregados.
2. O texto: Mc 1. 14-20.
ARA – Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho. Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus.
2.1 Verbos (ação ): Destaco deste texto os seguintes verbos: pregando, arrependei-vos, vos farei, seguiram.
2.2 Ação principal: Jesus Cristo anuncia que o tempo está cumprido, chamando a todos ao arrependimento e os primeiros a fazerem isto são os discípulos.
2.3 Ação secundária: Os discípulos, crendo no evangelho, deixam tudo para se tornarem pescadores de homens.
2.4 Personagens: Os personagens supramencionado no ponto “B 1.4” .
Títulos:
a. Jesus volta para a Galiléia (14,15) e A vocação de discípulos (16-20) – ARA.
b. Jesus chama os primeiros discípulos– NVI.
c. Jesus começa seu trabalho na Galiléia – NTLH.
3.1 Verbos:
khru,sswn [khru,ssw]: proclamar, anunciar, mencionar publicamente, pregar. Certamente o anuncio de Jesus naquele dia não foi de lei, mas do Evangelho, de boas novas.
metanoei/te [metanoe,w]: arrepender-se, mudar de atitude, deixar o pecado, converter-se a Deus, mudar a maneira de viver.
O Arrependimento não é tão fácil como às vezes pensamos. Literalmente significa: mudar de pensamente. O arrependimento significa que o homem que amava o pecado agora o odeia simplesmente porque é pecado, por sua pecaminosidade. Para Wather, metanoeiteé “mudai de mentalidade”.
3.2 Preposições:
Observamos a estrutura simples de Marcos, pois somente nestes versículos, no inicio dos mesmos encontramos a conjunção “kai”, o que nos permite afirmar que o autor está desenvolvendo uma narrativa dos fatos. Isto é, logo após uma seqüência de fatos, a conjunção quer nos informar que tem outros acontecimentos arrolados a este.
Como disse acima, parece que há uma lacuna entre a narração da “tentação de Jesus” e a sua “Volta para a Galiléia”. No entanto, Marcos resolve este problema com a preposição “meta,” colocando-nos no contexto, dizendo: “Mas, depois…”.
3.3 Novos significados:
v. 15 – O Reino de Deus – h` basilei,a tou/ qeou/ – É característico que o Reino é futuro, mas já presente; escondido no oculto dos decretos divinos, mas já manifesto neste tempo. Por isso, com a doutrina do Reino de Deus, Jesus Cristo deseja que o homem já se sinta tocado pela realidade divina, se torne crente e trilhe na fé o caminho da conversão e da vida nova.
v. 15 – Crede no evangelho – pisteu,ete evn tw/| euvaggeli,w| – Crer no evangelho significa simplesmente aceitar a Palavra de Jesus Crer que Deus é o próprio Deus que Jesus nos revelou em sua pessoa. Crer que Deus ama de tal maneira ao mundo que fará qualquer sacrifício atrair-nos a Ele. Crer que tudo isso, que parece fabuloso demais para ser verdade, é realmente verdade.
3.4 Variantes:
v. 14 – Os manuscritos de maior importância trazem neste versículo somente a expressão “o evangelho de Deus ” – to. euvagge,lion tou/ qeou/. Estão entre estes, os textos: Sinaítico, Vaticano, Bizantino, vulgata, coptas (com três manuscritos), siríaca (sinaítica e harclense) e um dos pais da igreja: Orígenes. Grande número de representantes gregos. No entanto, alguns manuscritos inserem a formulação “do reino” – th/j basilei,aj, sendo os principais destes: Alexandrinos, alguns bizantinos, vulgata, siríaca (peshita), um copta, etiópica e Jerônimo. Principalmente textos latinos. Portanto, a crítica textual é favorável ao primeiro grupo, sem o acréscimo “do reino”, por ser a maioria representantes gregos e de maior confiança na copia.
4 Encaminhamento homilético
4.1 Lei e Evangelho
Lei: Relata o próprio Jesus chamando o povo ao arrependimento. Mas o povo resistia à mensagem Dele, assim como rejeitou a mensagem de João Batista. Por isso, para os que viram a revelação do reino de Deus, em Jesus Cristo , e não creram Nele, as palavras “o tempo está cumprido” soa como julgamento. E a expressão “o reino de Deus” está próximo, nos leva a ver o julgamento eminente deste mundo. Portanto, o chamado ao arrependimento é urgente.
Evangelho: No entanto, Cristo trás a boa nova dizendo carinhosamente “arrependei-vos e crede no evangelho”. Não diz outra coisa a não ser “mude o teu jeito de pensar, não vim te julgar, mas te salvar; creia que eu sou o teu salvador”.
4.2 Verdades e fatos teológicos explícitos e implícitos.
– Jesus estava pregando o evangelho de Deus.
– O tempo está cumprido.
– O Reino de Deus está próximo.
– Arrependimento é o que Cristo oferece.
– Crer no evangelho.
– Jesus chama a homens simples.
– Faz destes pescadores de homens.
4.3 Assunto a ser abordado explícito deste texto e limitado a este texto
- A
- O
- De
- Por quê? Cristo foi enviado ao mundo com o objetivo de salvar a todos e este objetivo permanece na Igreja de Cristo que quer buscar e salvar o perdido, por isso, cumpre a função de ser a “pescadora de homens” chamando-os ao arrependimento e ensinando que creiam em Cristo como seu salvador.
5 Lei/ problema / doença /exigência /necessidade identificados no texto
João estava pregando e chamando ao arrependimento o povo de Israel e estes não o ouviram, senão que o prenderam. Então o próprio Jesus Cristo anuncia a este povo, que o “tempo está cumprido… arrependei-vos”.
6 Evangelho/solução/cura/oferta/bens identificados no texto
Mas, para os que aceitaram a Jesus e viram nele a pessoa do Salvador, estas mesmas palavras “o tempo está cumprido” era o que eles mais desejavam ouvir. E Ele acrescenta “crede no evangelho”, ou simplesmente, creiam em mim.
7 Objetivo do texto (uma frase )
Mostrar-nos que Cristo veio ao mundo trazendo oportunidade de arrependimento. Por isso, “o reino de Deus” se faz presente na pessoa de Jesus Cristo e hoje a continuidade deste reino está nas mãos daquele que Ele chamou para serem “pescadores de homens”.
8 Objetivo deste sermão (uma frase )
Como igreja de Cristo, somos chamados a continuar a boa obra que Cristo iniciou com os discípulos: “pescar homens”. Anunciando a estes o arrependimento e as Boas Novas de Deus para cada homem.
9 Tema
“O Reino de Deus está… junto de nós – arrependei-vos e credes no evangelho”.
