Escutando o Espírito segundo Atos dos Apóstolos

Escutando o Espírito segundo Atos dos Apóstolos


(Pedro disse:) Todo o povo de Israel deve ficar bem certo de que este Jesus que vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Messias. Quando ouviram isso, todos ficam muito aflitos e pergutanram a Pedro e aos outros apóstolos: Irmãos, o que devemos fazer? Pedro respondeu: Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para que sejam perdoados; e vocês receberão do Pai o Espírito Santo.
  
Na leitura de Atos dos Apóstolos nos ouvimos o relato do que aconteceu naquele primeiro dia de Pentecostes. Todos os cristãos estavam reunidos em um só lugar, assim como nós estamos aqui hoje. Primeiro eles ouviram o som de um vento muito forte. Este barulho de vento não estava fora daquele quarto, mas dentro dele.
Será que este foi o mesmo vento que soprou em todo o mundo por ocasião da criação, como lemos em Gn 1.1-2 e que finalmente deu vida ao primeiro homem criado por Deus?
Será que este era o mesmo vendo de que nos fala Ezequiel na visão que teve do vale de ossos secos e que deu vida a estes ossos (Ez 37)?
Finalmente, quando o som do vento cessou, uma coisa ainda mais estranha estava naquele quarto onde os cristãos estavam reunidos no primeiro Pentecostes. Nós somos informados de que eles viram coisas parecidas com chamas, que se espalharam como línguas de fogo e cada um foi tocado por uma dessas línguas(At 2.3)
Depois que foram tocados por estas línguas de fogo, cada pessoa que estava naquela sala começou a falar em outro idioma. Pessoas de todo o mundo que estavam em Jerusalém e haviam se juntado ao redor da casa quando ouviram o ruído do vento, ficaram assombradas com o que presenciaram. Eles, que não entendiam um ao outro, também não compreendiam como podiam entender o que os discípulos falavam. Os discípulos não tinham estudado idiomas e, ainda assim, falavam fluentemente línguas estrangeiras e contavam a respeito das grandes coisas que Deus tem feito.
Nós hoje podemos não estar esperando ouvir o som de um vento muito forte ou ver coisas parecidas com línguas de fogo pairando sobre a cabeça de cada um de nós. Nós também podemos não estar esperando que repentinamente alguém comece a falar em swaili, ou húngaro ou avá-canoeiro. Estes foram sinais especiais que os primeiros cristãos receberam do Espírito Santo no primeiro Pentecostes. Mas o que dizer dos eventos que seguiram à vinda do Espírito Santo?
Por exemplo, naquele primeiro Pentecostes os cristãos ficaram excitados a respeito de Jesus Cristo. Ele passaram a contar a qualquer um que pudesse ouvi-los de que aquele Jesus era o seu Senhor e Salvador. Eles não perderam tempo e contaram adiante as maravilhosas notícias de que o pecado e a morte tinham sido derrotados e nada mais poderia condena-los. Eles estavam entusiasmados sobre o fato de que Deus os amava tanto que enviou Jesus para morrer por eles. Isso era muito excitante. Eles tinham recebido as boas notícias a respeito do Salvador e do que Deus havia feito por eles. E por isso eles não podiam ficar quietos, eles precisavam contar para alguém. Era mais ou menos como se você tivesse recebido notícias incrivelmente boas – você acaba de ganhar vários milhões de reais – e você não consegue esperar para contar a alguém sobre este maravilhoso acontecimento.
Se nós, hoje ou qualquer dia, dermos uma olhada em nossos irmãos de fé, veremos alguém estourando de vontade para contar a outros sobre o que Jesus fez por ele e como isso é importante para a sua vida? Talvez, se apertarmos nossos olhos e abrirmos bem nossos ouvidos, poderemos ver algumas pessoas que repartem Cristo com todos, mas no geral nós não vemos muitas pessoas que, de forma aberta e cheia de entusiasmo, falam sobre Jesus e sobre a Igreja de Cristo.
Mas naquele primeiro Pentecostes, não eram apenas os que falavam que estavam cheios de entusiasmo. Também os ouvintes estavam assim. Vejam a resposta ao sermão de Pedro. Depois que ele anunciou as boas notícias sobre Jesus naquele primeiro Pentecostes, nós somos informados de que três mil pessoas foram batizadas e somadas à Igreja. A nós, com certeza, parece ser muito, mas muito difícil achar este tipo de resposta em qualquer lugar da Igreja hoje, neste país.
Claro que temos congregações que estão crescendo. Algumas até mesmo atingem uma taxa de crescimento fenomenal. Mas por que este tipo de crescimento não é visto em todas as congregações, especialmente na nossa? Por que, de um modo geral, parece que a Igreja Cristã está diminuindo em nosso país, ao invés de crescer? Será que o Espírito Santo tirou férias?
Mas dê uma olhada do que aconteceu na vida daquelas pessoas que foram tocadas pelo Espírito Santo. Nós somos informados que elas repartiram o que tinham de forma generosa com todos os que eram menos afortunados; eles também se encontravam todos os dias na Igreja para adorar a Deus e ainda nas casas uns dos outros para reuniões de amizade, onde oravam e escutavam e estudavam o que os apóstolos lhes anunciavam (At 2.42-47)
O entusiasmo daquele Dia de Pentecoste não foi um entusiasmo de vida curta. As vidas daquelas pessoas estavam tão cheias de alegria que esta alegria se mostrou em tudo o que faziam.As outras pessoas podiam ver a diferença que o Espírito Santo havia causado naquelas vidas. Todos ficavam impressionados com o modo como os cristãos se amavam e se ajudavam mutuamente em tempos de necessidade. E por causa da maneira como eles viviam nos é dito que cada dia o Senhor juntava àquele grupo as pessoas que iam sendo salvas (At 2.47). Por que nós vemos tão pouco deste entusiasmo em nossas vidas, nos cultos, nas reuniões de estudo bíblico, na vida em comunidade e no dar tempo e dinheiro para satisfazer as necessidades dos outros?
Nós cremos que recebemos o Espírito Santo em nosso Batismo. Será que o Espírito Santo perdeu o interesse em nós? Será que o Espírito Santo perdeu o interesse na Igreja no Brasil e, por isso nos abandonou? Será que o Espírito Santo perdeu o interesse m nós como indivíduos e nos deixou com nossas atitudes negativas, com nossa falta de interesse, com nossa falta de vontade em participar dos cultos e estudos bíblicos, com nossa frieza diante das carências dos outros?
É preciso que estejamos certos de uma coisa: o Espírito Santo não foi embora. Ele não nos abandonou. Ele está presente em nossas vidas e em nosso mundo, tal como estava no primeiro Pentecostes. Ele entrou em nossas vidas quando fomos batizados. Ali ele nos deu fé em Jesus e nos deu as boas vindas ao Reino de Deus. Em nosso Batismo ele nos fez novas criaturas, perdoou nossos pecados e nos deu a promessa da vida eterna. De fato, não é Deus que não leva sua promessa batismal a sério, mas somos nós que não levamos Deus a sério.
O que quero dizer quando digo que nós não levamos o Espírito Santo a sério? Um dos papéis importantes do Espírito Santo é nos ensinar, nos guiar em nossa compreensão daquilo que Deus nos diz na Bíblia; nos ajudar a crescer na fé em Deus na medida em que escutamos a voz de Deus nas Escrituras. E Ele faz isso em ocasiões como agora, quando podemos estudar a Palavra de Deus e ouvir a sua pregação.
O Espírito Santo condena o nosso pecado. No poderoso sermão que Pedro anunciou naquele Pentecostes ele anunciou aos seus ouvintes como Deus cumpriu suas promessas enviando Jesus. Ele encerrou sua pregação contando como Jesus tinha sido morto pelos judeus. Nós somos informados de que os ouvintes reagiram a esta informação de Pedro, ficando chateados e profundamente preocupados. O Espírito Santo tinha tocado neles pelas palavras que Pedro anunciara, e eles perceberam que também eram culpados pela morte de Cristo. Eles estavam entre os responsáveis pela crucificação. Eles sentiram sua culpa e envergonharam-se por causa do seu pecado e, em genuíno desespero, pedem socorro: o que devemos fazer?
Como judeus de corações endurecidos chegaram ao ponto de sentir remorsos pelos seus pecados? Só existe uma resposta: o Espírito Santo agiu neles.
Ele ainda faz isso hoje quando nós ouvimos a Palavra de Deus. Mas parece que as acusações do Espírito Santo contra nós hoje perderam seu impacto. Em lugar de ouvir o que o Espírito Santo está nos dizendo sobre a grandeza de nosso pecado, o que nós fazemos é buscar desculpas.
Eu não passo de um ser humano! Em nosso mundo hoje, esse tipo de coisa é aceitável! Estou velho demais para deixar essa vida de lado!
A realidade é que nós, na maioria das vezes, não estamos profundamente arrependidos de nosso pecado. Nós damos de ombro, como se o pecado não nos trouxesse qualquer conseqüência. Por outro lado, o Espírito Santo está nos alertando que nosso pecado é sério, nos condena, é uma ofensa a Deus, nos separa de Deus, nos fere e, de fato, nos mata. O Espírito Santo nos diz que o pecado não é algo que pode ser ignorado ou a que se dá pouca importância. É isso que o autor de Atos nos diz quando conta que aqueles que ouviram o sermão de Pedro ficaram muito aflitos e preocupados. Eles sentiam todo o peso de seus pecados e reconheciam que estavam numa grande dificuldade.
Quando eles indagaram a Pedro sobre o que deveriam fazer, Pedro lhes disse: arrependam-se e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para que sejam perdoados. Você consegue imaginar a alegria deles quando ouviram estas boas notícias? Eles reconheceram que estavam numa grande dificuldade e ficaram aliviados ao ouvir as boas notícias de Jesus. O Espírito Santo os convenceu de que a mensagem que Pedro anunciava era verdade. O Espírito Santo mudou suas mentes e permitiu que eles confessassem que Jesus é o seu Senhor.
O Espírito Santo também faz isso conosco hoje quando ouvimos a Palavra de Deus. Ele traz a cada um de nós a mensagem do amor de Deus e do seu perdão em Jesus Cristo. Ele nos fala que Deus leva o pecado tão a sério que enviou seu Filho para que seja o nosso Salvador. Deus limpou toda a sujeira da nossa culpa. Deus promete estar sempre pronto a nos perdoar. Isso é que é maravilhoso. É um alívio para nós sabermos que Deus nos perdoa embora nós não mereçamos ser perdoados. É uma alegria para nós sabermos que Jesus é o nosso Senhor.
Mas, se é assim, porque parece que o Espírito Santo saiu em férias? Será que nós ouvimos tantas vezes a história da morte e ressurreição de Jesus em nosso favor que isso já não nos atinge mais? Será que para nós é muito difícil ficarmos alegres e contar aos outros as boas notícias de Jesus? Será que para nós é muito mais difícil nos reunir de forma entusiástica para o culto semanal, como foi para os primeiros cristãos? Será que para nós é muito mais difícil sermos motivados para participarmos do estudo da Palavra de Deus, ou ajudar aqueles que ao nosso redor passam por necessidades?
De fato, o Espírito Santo um trabalho duplamente difícil conosco, cristãos do terceiro milênio. É certo que Ele continua vivendo em nós e, assim, o cristianismo sobrevive em nossas vidas. Mas nós desenvolvemos uma audição seletiva.
Se o Espírito Santo diz Ame os outros, nós ouvimos ame aqueles que são bons para você. Quando Ele nos recomenda: perdoem um ao outro, nós ouvimos: perdoe aqueles que dizem que estão arrependidos. Quando Ele nos diz: conte aos outros o que Jesus fez por você, nós ouvimos: conte aos outros sobre Jesus, mas evite ser ridicularizado. Quando Ele nos diz evite a imoralidade sexual, a embriaguez, o uso de drogas, nós ouvimos evite estas coisas, mas um pouco delas não vai fazer mal.
Eu creio que todos nós entendemos a comparação. Nós podemos de fato estarmos nesta situação quando o assunto é nossa fé cristã e suas implicações para nossa vida. Nós podemos estar fartos de nosso pecado e darmos pouco valor para o Evangelho que nos conta como Deus nos perdoa tão amorosamente. Mas Deus continua nos falando. O Espírito Santo continua vindo a nós. Vamos ouvir o que Ele tem a nos dizer e não mais negligenciarmos o cuidado de nossa fé e de nossa Igreja. Vamos escutar quando Ele nos recorda da alegria de Jesus morrer para nos perdoar.

Aqueles cristãos que presenciaram o primeiro Pentecostes, ficaram excitados, alegres, eufóricos ao saber o que Jesus fez por eles. A vida deles e a Igreja cristã ganharam um novo impulso, uma nova vida. O Espírito Santo fez isso. E ele ainda quer fazer isso hoje. Amém.