Culto: A Confessionalidade na Liturgia Luterana

1.  Culto Cristão
Os fundamentos teológicos do culto e da liturgia podem ser descritos a partir da definição da essência do culto cristão. A essência do culto possui duas realidades: a proclamação dos dons da salvação pelo doador, Deus. E a conseqüente adoração a este doador que é realizada por parte do homem, o beneficiado. Deus transmite seus dons da salvação para a igreja através da sua Palavra e Sacramentos, e a igreja apresenta ações de graças a Deus através de orações, confissão e louvor.
Toda a Bíblia testifica que a possibilidade de cultuar a Deus não está ao alcance do homem natural. Deus é quem chama o homem, quem o justifica e lhe dá a capacidade de adorá-lo. Deus pode ser o objeto de nosso culto apenas quando Ele primeiramente é o sujeito do mesmo, ou seja, Deus é quem concede o culto.[1]
A Bíblia relaciona o culto com a história que Deus iniciou para a nossa salvação desde a criação do homem. Nessa história, encontramos aspectos importantes e fundamentais da verdadeira essência e do significado do culto cristão.[2]

Primeiro, o culto cristão baseia-se no culto perfeito oferecido por Jesus Cristo. Esta fundamentação cristológica do culto se dá de forma dupla, o culto terreno celebrado pela vida, obra e glorificação do Cristo encarnado e no culto celestial oferecido por Cristo até a vinda do mundo vindouro.[3]

Dentro desta perspectiva, o culto, para ser verdadeiro, deve sempre direcionar o adorador à obra de Cristo, deixando claro, assim, que a dignidade e a justiça necessárias para chegar-se à presença de Deus em adoração são atribuídas ao crente pela justificação através da fé em Cristo.
Segundo, o culto verdadeiro é uma recapitulação da obra salvadora de Cristo. O culto resume e confirma sempre de novo a história da salvação, cujo ponto culminante se encontra na intervenção encarnada de Cristo.[4]
A recapitulação tem o sentido de evocar um acontecimento do passado a fim de torná-lo operante aqui e agora pelos seus efeitos. E ela remete a igreja ao futuro, antecipando o retorno de Cristo e do seu reino, tornando o culto uma celebração escatológica. E o agente divino responsável pela atualização da obra de Cristo na vida de cada indivíduo, é o Espírito Santo. A presença do Espírito Santo, através dos meios da graça, é a marca fundamental da presença do Senhor no culto da igreja.
Além desses dois pontos fundamentais, o culto, de forma especial, é um dos momentos em que Deus anuncia e concede o seu perdão novamente, através da proclamação da sua Palavra e da Santa Ceia. O culto verdadeiro sempre oferecerá de novo a mensagem da salvação a partir da remissão dos pecados.
A segunda realidade da essência do culto é a resposta da igreja à iniciativa salvadora de Deus. Esta resposta é fruto de um coração que foi justificado e renovado pela ação do Espírito Santo através da fé no evangelho de Jesus Cristo. No culto, esse homem transformado junta-se com seus irmãos da fé, formando a igreja que se reúne para novamente ser servida por Deus e para servir a ele como resposta a sua iniciativa.

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[1] PAQUIER. Dynamics of Worship. P.04
[2] BRUNNER. Worship in the name of Jesus. P.91
[3] ALLMENN. O Culto Cristão. P.25
[4] ALLMENN. Op. cit. P.32